O tratamento convencional para a epilepsia muitas vezes é ineficaz em casos mais graves da doença, deixando os pacientes sem opções para controlar suas crises. No entanto, um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP) mostrou que o canabidiol, substância extraída da planta da maconha, tem um grande potencial terapêutico na redução de crises graves em pacientes com epilepsia resistente.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a epilepsia é uma das doenças neurológicas mais comuns, afetando cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo. Dentre os diferentes tipos de epilepsia, a resistente é aquela em que o paciente não responde aos medicamentos e tratamentos convencionais, o que pode causar consequências graves à sua qualidade de vida.
Foi pensando nesses pacientes que pesquisadores da USP conduziram um estudo inédito no Brasil, intitulado “Estudo Brasileiro de Canabidiol em Epilepsia Resistente” (EBE-RES), com o objetivo de avaliar a eficácia e a segurança do uso do canabidiol como opção terapêutica na epilepsia resistente.
Para isso, foram selecionados 214 pacientes de 6 a 57 anos com epilepsia resistente, provenientes de cinco centros de referência em São Paulo e em Brasília. Todos os pacientes foram submetidos a exames clínicos, neurológicos e laboratoriais antes e após a utilização do canabidiol.
Os resultados do estudo foram impressionantes: cerca de 41% dos pacientes apresentaram uma redução significativa no número de crises convulsivas após a utilização do canabidiol, demonstrando o seu potencial terapêutico para casos mais graves de epilepsia. Além disso, os pesquisadores também observaram uma melhora na qualidade de vida dos pacientes, com uma redução nos sintomas de depressão e ansiedade.
O canabidiol é um dos principais compostos químicos da planta da maconha, juntamente com o tetraidrocanabinol (THC). No entanto, diferentemente do THC, o canabidiol não possui efeito psicoativo, ou seja, não causa alterações no estado mental do paciente. Isso torna o canabidiol uma opção terapêutica segura e eficaz para pacientes com epilepsia.
De acordo com o professor Antonio Waldo Zuardi, coordenador do estudo e chefe da disciplina de Psicofarmacologia da USP, o canabidiol atua no sistema nervoso central, influenciando mecanismos que controlam as crises epilépticas. Além disso, ele também possui ação anti-inflamatória e neuroprotetora, podendo auxiliar no tratamento de outras doenças neurológicas.
Apesar dos resultados positivos, o uso do canabidiol para o tratamento da epilepsia ainda é muito restrito no Brasil. Atualmente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autoriza apenas a importação do medicamento, que é considerado um fitoterápico e não está disponível na lista de medicamentos registrados no país.
No entanto, alguns projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional propõem a regulamentação do uso medicinal da maconha no Brasil, o que poderia facilitar o acesso ao canabidiol para pacientes com epilepsia e outras doenças. Além disso, a Anvisa também está avaliando a possibilidade de registrar o medicamento em território nacional.
É importante ressaltar que o uso do canabidiol para fins medicinais deve ser acompanhado e prescrito por um médico especialista, que irá avaliar a dosagem adequada e possíveis interações medicamentosas. A automedicação pode trazer riscos à saúde e comprometer