Algumas pessoas dizem acreditar que Bolsonaro ainda volta à política para concorrer à Presidência em 2026. A minha reação é de perplexidade. O homem está inelegível! Os responsáveis por sua condenação são os mesmos que comemoraram o fato de ter livrado o país do bolsonarismo. Não há luz no fim do túnel para essa possibilidade. Os otimistas alegam que a situação de Bolsonaro é mais promissora até que a enfrentada por Lula. O petista estava preso, com zero chance de sair da prisão. Havia ainda processos em andamento que poderiam agravar mais a pena. Muitos de seus aliados poderosos também estavam encarcerados ou prestes a ir para a prisão. Seu maior adversário havia vencido as eleicoes e tinha tudo para se reeleger.
Dá para imaginar o desespero de Lula dentro da prisão ouvindo sua turma do lado de fora gritando: “Bom dia, presidente!”. Pare para pensar. Procure se colocar no lugar dele. Você olha para frente, para trás, para os lados e nada. Só encontra a palavra consoladora do companheiro Cristiano. Sim, naquele momento o advogado já havia se tornado brother e, por isso, possivelmente, era chamado pelo primeiro nome. Passado pouco tempo, no meio daquele breu, eis que Lula consegue encontrar uma fresta, que até então poderia ser considerada inviável, para sair da prisão e ter seus direitos políticos recuperados.
O ministro Luiz Edson Fachin, em decisão que pegou o país de surpresa, resolveu que a 13ª Vara Federal de Curitiba, até então comandada pelo juiz Sergio Moro, não tinha competência para processar e, portanto, também para condenar o ex-presidente nos casos do tríplex do Guarujá, do sítio de Atibaia e do Instituto Lula. Dessa forma, numa canetada, Lula, que já havia sido beneficiado pela decisão do fim da prisão em segunda instância, e ter saído pela porta da frente das dependências da Polícia Federal de Curitiba, onde cumpria pena, agora também foi descondenado. Como assim?! Depois de tantos julgamentos e passados tantos anos, agora é que descobriram a incorreção do CEP?! Tudo isso para mostrar que não há escuridão, por mais densa que seja, que possa ser tomada como definitiva.
A sequência da história você já conhece. Contando com o apoio de diversos segmentos da população, especialmente da imprensa, de boa parte do Judiciário e da classe artística, teve sua campanha viabilizada. E mesmo sem poder sair às ruas, provavelmente devido às vaias que recebia, ao contrário do que acontecia com seu concorrente, que carregava multidões por onde andava, ganhou as eleições e voltou ao Palácio do Planalto pela terceira vez. Se quando Lula foi preso perguntassem a alguém quais eram as chances de isso acontecer, a resposta unânime, com certeza, seria: nenhuma.
Lula não apenas conseguiu voltar a vestir a faixa presidencial como foi capaz de outro feito impensável — emplacou no STF (Supremo Tribunal Federal) seu advogado Cristiano Zanin. Esse cenário jamais poderia ser vislumbrado pelo líder petista nem em seus sonhos mais perfeitos e delirantes. Embora essas considerações sejam verdadeiras, a realidade e o contexto enfrentado por Bolsonaro são diferentes. Quem está no poder não nutre um pingo de simpatia por ele. Jamais encontraria a boa vontade que Lula encontrou. Basta rever o que aconteceu, por exemplo, no TRF-4, que, por decisão unânime, condenou Lula a 17 anos, 1 mês e 10 dias de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, ampliando a pena imposta pelo tribunal de primeira instância. Dá para imaginar o tipo de tratamento que Bolsonaro teria depois de ter sido condenado em todas as instâncias. Como diz a velha máxima para quem é preso sem chance de sair: “Prenderiam e jogariam fora a chave da cadeia”.
Em todo caso, como o mundo dá voltas inesperadas e a história já provou que, especialmente na política, nada é impossível, quem sabe apareça um ministro para livrar Bolsonaro. Alguém com poder para promover um milagre e dizer que, por um ou outro motivo, agora não visíveis, a sua inelegibilidade foi um equívoco. E, dessa forma, dar a ele todas as condições de recuperar seus direitos políticos. Ainda teremos dois anos até a realização do próximo pleito presidencial. Tudo pode acontecer. Assim como ocorreu com os portugueses em 1578, os bolsonaristas parecem ser adeptos do sebastianismo e aguardam a volta do soberano. Há gente que acredita até em Saci-Pererê. Siga pelo Instagram: @polito.
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